Para Artur Lopes foi simples decidir não candidatar-se ao Comité Olímpico de Portugal (COP), após assumir a presidência de uma maneira “muito amarga”, evocando como motivos a sua idade e “um compromisso interno” com José Manuel Constantino.
“Não foi difícil tomar a decisão, por duas razões. Primeiro, tenho a idade que tenho. Tenho 79 anos, mais quatro [anos] são 83, e quem vier tem de trabalhar aqui o tempo inteiro”, começou por dizer, antes de recordar o “compromisso interno” que tinha com o seu antecessor: “Não era preciso isso, mas estava fora de mim [avançar com uma candidatura]”.
Em entrevista à agência Lusa, Artur Lopes recordou, com carinho, as conversas com José Manuel Constantino, que presidiu ao COP entre março de 2013 e 11 de agosto de 2024, data da sua morte, lembrando que os dois tinham combinado almoçar “pelo menos de 15 em 15 dias” para falarem sobre os candidatos que fossem aparecendo.
“Ele sabia que, de maneira nenhuma, me queria candidatar. Não, estava fora de mim mesmo. Aliás, quando foi a primeira vez que ele se candidatou para o COP, eu também já tinha tido em reuniões algumas federações que me diziam que eu poderia apresentar [uma candidatura] naquela altura, mas eu nunca quis. Foi algo que nunca esteve nas minhas coisas”, garantiu.
Ainda assim, após a morte do amigo Constantino, o antigo presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) acabou por tornar-se líder do COP, de uma maneira que descreve como “muito amarga e muito triste”.
“Quando foi o falecimento, tivemos uma discussão interna, em que eu propunha que fôssemos, digamos, um colégio, que fosse dirigindo. E houve vários membros da Comissão Executiva, a quase totalidade, que acharam que não, que deveria ser alguém”, contou, detalhando que para aceitar o cargo exigiu que a sua ‘nomeação’ fosse validada em Assembleia Plenária, o que aconteceu em 05 de setembro, por unanimidade.
A poucos dias das eleições, agendadas para 19 de março, Artur Lopes deixa impressões para o futuro, nomeadamente a defesa de um limite de idade para avançar com um candidatura à presidência do COP, algo que propôs mas que foi chumbado pela Comissão Executiva, e da ausência de remuneração para o presidente.
“Os estatutos dizem que os membros sociais do COP podem ser remunerados, mas eu propus o limite de idade [75 anos no máximo] e que os presidentes não fossem remunerados. Não há nada de ilegal que impeça que o presidente do COP seja remunerado. Outra coisa é a ética. Eu acho que este cargo tem de ser, como eu o vi quer com Vicente Moura, quer com José Manuel Constantino, e aprendi com isso, 100% e integralmente ético”, vincou.
Para Lopes, o posto que atualmente ocupa “deve ser abraçado com um espírito de missão, pura e simplesmente, e sem qualquer tipo de remuneração”, como aconteceu com os dois anteriores presidentes.
“Os que virão têm toda a legalidade para serem remunerados. Agora, acho que isso deve ser também definido. Quem vier para aqui, não pode ter qualquer tipo de ‘rabo de palha’, em qualquer zona, sob o ponto de transparência, de ética, de relacionamento institucional quer com a casa, quer para fora da casa, quer com o mundo desportivo, o meio jurídico, o meio financeiro. Tem de ser uma pessoa que deva ser ética do princípio até ao fim”, defendeu.
O presidente do COP recordou que entregou 40 anos da sua vida ao dirigismo sem nunca ter sido remunerado.
“Acho muito bem que hoje haja uma profissionalização e as federações implicam um nível de trabalho que não pode ser como eu, se calhar, no princípio fazia. Se houver essa profissionalização, as pessoas devem ter a hombridade de dizer ‘eu sou profissional, eu mereço tanto, eu ganho tanto’. Deve ser uma carta aberta para toda a gente. Isto é algo que é fundamental”, reiterou.
Lopes considera que estar-se no desporto não é só desenvolver um grande plano, “mas é fazê-lo com a ética necessária”.
“É dizer ‘eu estou desportivamente no plano’. E o desportivo carrega em si não só o trabalho, o treino, a resiliência, mas a transparência, com tudo”, finalizou.